sexta-feira, 20 de julho de 2007

Excerto:


Nora Roberts


«Prólogo

Memphis, Tennessee
Agosto de 1892


Dar à luz um filho bastardo não estava nos seus planos. Quando descobriu que trazia no ventre o filho do seu amante, o choque e o pânico rapidamente se transformaram em raiva.
Havia formas de lidar com a situação, claro. Uma mulher na sua posição tinha contactos, tinha opções. Mas ela tinha medo das abortadeiras, quase tanto medo delas como daquilo que crescia, indesejado, dentro de si.
A amante de um homem como Reginald Harper não podia dar-se ao luxo de engravidar.
Ele sustentava-a há quase dois anos, e sustentava-a bem. Oh, ela sabia que ele tinha outras - incluindo a mulher -, mas elas não a preocupavam.
Ainda era nova e era bonita. A juventude e a beleza eram produtos que podiam ser comercializados. E ela fizera-o, ao longo de quase uma década, com a graça e o charme que aprendera observando e imitando as senhoras elegantes que visitavam a grandiosa casa junto ao rio, onde a sua mãe trabalhava.
Ela tinha educação - um pouco. Mas, mais do que a de livros e música, aprendera a das artes da sedução.
Vendera-se pela primeira vez com quinze anos e, juntamente com o dinheiro, ganhara conhecimento. Mas a prostituição não era o seu objectivo, tal como não o era o trabalho doméstico ou arrastar-se para a fábrica dia após dia. Ela sabia a diferença entre prostituta e amante. Uma prostituta trocava sexo frio e rápido por tostões e já estava esquecida antes mesmo de o homem abotoar a braguilha.
Mas uma amante - uma amante inteligente e bem-sucedida - oferecia romance, sofisticação, conversa, boa disposição, para além da mercadoria que tinha entre as pernas. Era uma companheira, um ombro para ele chorar, uma fantasia sexual. Uma amante ambiciosa sabia como não exigir nada e ganhar muito.

Amelia Ellen Conner tinha ambições.
E concretizara-as. Pelo menos, a maioria delas.
Seleccionara Reginald muito cuidadosamente. Ele não era atraente nem tinha uma mente brilhante. Mas era, como a sua pesquisa lhe garantira, muito rico e muito infiel à magra e legítima esposa, que presidia a Harper House.
Ele tinha uma mulher em Natchez e dizia-se que mantinha outra em Nova Orleães. Podia sustentar mais uma e, portanto, Amelia apontou-lhe as suas armas. Fez-lhe olhinhos e conquistou-o.
Aos vinte e quatro anos, vivia numa bela casa em South Main e tinha três criadas. O seu guarda-fato estava cheio de roupa bonita e a caixa de jóias cintilava.
Era verdade que não era recebida pelas senhoras elegantes que em tempos invejara, mas havia um mundo semielegante onde uma mulher da sua posição era bem-vinda. Onde ela era invejada.
Dava festas sumptuosas. Viajava. Vivia.
Depois, pouco mais de um ano após Reginald a ter instalado naquela bonita casa, o seu mundo hábil e astuciosamente construído desabara.
Teria escondido a gravidez até reunir a coragem necessária para visitar o bairro da luz vermelha e acabar com ela. Mas ele apanhara-a a vomitar violentamente e estudara o seu rosto com aqueles olhos escuros e perspicazes.
E soubera.
[...]»

2 comentários:

Fátima disse...

Estou a começar a ler o último volume desta trilogia, "O lírio vermelho", e tratam-se de três livros deliciosos, que nos cativam e prendem da primeira à última palavra.
Nora Roberts não desilude, a cada novo livro que saí no mercado dá-novas e cativantes personagens!

Fernanda disse...

Obrigada por terem publicado esta trilogia fantástica e por me terem dado a conhecer a obra da Nora Roberts. Este "lirio vermelho" foi dos 3 o que eu mais gostei. Mais uma vez, muito obrigada